Por que casar, se eu posso só ficar e namorar?



Casamento é algo que antigamente todo mundo buscava.  Hoje alguns até sonham, mas a vida profissional e a estabilidade financeira estão em primeiro lugar. Lembro-me das histórias dos meus pais e avós, para eles o casamento era uma necessidade para que a vida adulta começasse e o labutar diário fizesse sentido. Casar e construir juntos, eles pensavam. Hoje as coisas mudaram. Construir sozinho e depois juntar o que temos. Primeiro terminar os estudos, estar com um bom emprego e depois pensar em casar. Não quero ensinar aqui que devemos sair juntando nossas trouxas com qualquer um, sem o mínimo de preparo e planejamento, mas esse é apenas um exemplo para mostrar como o entendimento do casamento mudou.
Que as coisas mudaram não há dúvida, mas por que mudaram? Uma das razões entre muitas está no valor e significado do ato sexual. Antes, o sexo era a aliança final e suprema entre um homem e uma mulher. Naquele tempo a virgindade tinha valor. A cultura da época via no sexo algo de sagrado e reservado para o casamento. Vale também lembrar que a hipocrisia daquela época era grande, e enquanto as mulheres se guardavam para o casamento muitos homens eram iniciados em sua vida sexual nos bordéis. Muitos rapazes inclusive levados pelos próprios pais. Isso hoje é considerado abuso sexual. Porém a questão é que mesmo com a hipocrisia havia uma aversão ao sexo fora do casamento. A sociedade era contra o sexo antes do casamento e também contra o adultério. Essa sociedade começa a mudar, entretanto, com os ideais hippies de sexo, drogas e rock’n roll. A liberdade sexual é usada como forma de protesto contra a dureza e o moralismo da sociedade moderna. Depois disso o sexo virou comércio, como tudo, ou quase tudo. A industria da pornografia é uma das mais lucrativas do mundo.
Traduzindo: uma das melhores sensações da vida, o sexo, há 50 anos atrás era bem visto somente dentro do casamento. Assim, a necessidade biológica do sexo era a mola propulsora para o matrimônio. Hoje você não precisa casar para encontrar alguém que queira fazer sexo com você, gratuitamente, sem compromisso e com muita disposição. Logo, por que se casar?
Por sexo? As pessoas têm a sua disposição fora do casamento e não são mal vistas por isso como antigamente. Assim pensam ser melhor ficar. Não entenda ficar como um simples beijo na boca, prática corriqueira entre adolescentes, mas o sexo sem compromisso entre amigos, companheiros de trabalhos, ou entre duas pessoas que acabaram de se conhecer em uma balada. Por desejo de afetividade? Não é preciso casar e enfrentar os desafios de uma vida a dois. Basta namorar.
Fora a questão civil no nosso país. Que leva você a gastar cerca de R$ 450,00 para se casar e oferece uma enorme facilidade para o divórcio. Adultério já foi crime, não é mais. A “união estável” está em alta e te oferece direitos como se você fosse casado.
Toda essa lógica é comum em nosso tempo. Mas é totalmente contra a lógica cristã. Ou você pensa como Cristo e se afirma como um cristão ou você assume sem reflexão os costumes desse tempo decadente. Chegamos ao título desse texto: Por que casar, se eu posso só ficar e namorar? 
Desejo propor aqui uma resposta cristã para esse tema. Para isso desejo basear minha argumentação no imperativo de Jesus Cristo que resume todos os mandamentos de Deus: Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo. Um princípio de alteridade é exposto aqui. Alteridade é a capacidade de reconhecer o outro. Saber que a vida não encontra propósito quando não consideramos seriamente a existência e as necessidades do outro. O cristianismo oferece sentido para nossa existência quando amamos a Deus, pois fomos criados por Ele e para Ele, e fazemos isso amando nosso próximo. Não vivendo para nós mesmos, mas para o “totalmente outro”, Deus, e para o outro, os indivíduos com os quais você se relaciona. Porém estamos em um tempo em que as pessoas são egocêntricas e egoístas. O outro é percebido apenas quando ao percebê-lo teremos vantagens para nós mesmos.
Quando ficamos, nos relacionamos sem compromisso, estamos usando outra pessoa para satisfazer nossos desejos. Diante da carência e do desejoso de sexo, vamos procurar aquela pessoa que podemos usar, aquela que um dia demonstrou sentir algo por nós, ou alguém que está, assim como nós, buscando alguém para ser usado. Ocorre assim a simbiose da afetividade, um usando o outro para se satisfazerem.
Na própria idéia de namoro está implícito um compromisso em uma fase de conhecimento para que saibamos com certeza se essa pessoa é a pessoa com quem queremos constituir uma família. Namoro não é para usar alguém de forma cativa. Namoro não é disputa de domínio.
O desejo de Deus é que cada pessoa viva totalmente realizada ao encontrar propósito e significado para sua existência Nele. Solteiro ou casado, satisfação existencial em Deus. Depois disso, essa pessoa está apta para se relacionar afetivamente sem se ferir e sem causar ferimentos. Ela não busca satisfação no outro. Mas satisfeita em Deus ela pode oferecer algo a pessoa amada. Ela pode oferecer o que já tem. Dessa forma o relacionamento afetivo, entre um homem e uma mulher, em uma perspectiva cristã, não é a busca do que temos falta, no outro, mas o transbordar do que já temos sobre o outro. Enquanto os dois esperam algo, ninguém recebe e há frustrações e mágoas. Quando os dois oferecem, há transbordar de alegria. Esse casal agora está pronto para se casar e fazer uma aliança um com outro, não só de palavras, mas de sangue e de prazer, isso é sexo. Sem constrangimento, sem doenças, sem mágoas, sem usar e sem ser usado.
E quando a força do sexo passar, a idade chegar e o sexo for um apêndice, o que restará é o verdadeiro amor, que o simples ficar e o namoro superficial não podem produzir, mas somente aqueles que têm um relacionamento profundo como no casamento, podem encontrar. Porque o amor começa quando a paixão acaba.